Empresas chinesas no mercado africano têm “selo de qualidade”

27 February 2006

Pequim, China, 27 Fev – Os países africanos de expressão portuguesa devem encorajar a entrada das empresas chinesas nos seus mercados, porque elas já se submeteram à triagem do governo e do sistema financeiro da China, defendeu hoje em Pequim um consultor e académico chinês.

“Não há que recear a participação das empresas chinesas nos concursos públicos dos países de expressão portuguesa, porque elas já foram submetidas a testes pelo governo chinês, e isso é uma garantia de qualidade”, disse Huang Zequan, consultor de empresas chinesas que querem internacionalizar-se para África e académico na Universidade de Pequim.

Huang defendeu que esta é uma forma positiva do governo participar na economia, uma vez que reduz os riscos inerentes à falta de informação e fornece uma garantia de qualidade às empresas que querem entrar em mercados onde não são conhecidas.

“Existem duas condições essenciais para que o governo permita que as empresas chinesas participem em concursos internacionais em África. A primeira é ter um historial positivo no que toca à finalização dos contratos dentro do prazo e do orçamento, a outra é se elas têm de facto máquinas, pessoal e capacidade financeira para levar o projecto até ao fim,” disse também o consultor, que ensina Estudos Africanos na Universidade de Pequim e é investigador da Academia Chinesa de Ciências Sociais.

“Quando um país abre um concurso, tem assim a certeza de que a empresa que o ganha é quem faz o projecto, que não subcontrata o trabalho a outras empresas, como fazem, por exemplo, companhias de países ocidentais em África, como as espanholas,” acusou Huang.

Huang realçou também o papel do sector financeiro da China na redução da incerteza do investimento associado à contratação de empresas chinesas, “porque são os próprios bancos que conduzem investigações sobre as empresas, como condição essencial para a atribuição de empréstimos.”

Diversas empresas chinesas estão já a operar nos países africanos de língua portuguesa, como a China International Fund, que está reconstruir o caminho de ferro de Benguela, a China Jiangsu International que vai construir o Palácio da Justiça em Luanda, ou, em Moçambique, a China Geo Engineering, que ganhou em Outubro o concurso para a construção da rede de abastecimento de água de Xai-Xai e Chokwe e a China Henan International que ganhou o concurso para o abastecimento de água em Inhambane e Maxixe.

Huang Zequan explicou ainda que o sector financeiro e o Estado trabalham de forma conjunta na internacionalização das empresas chinesas para África.

O Exim Bank é um dos bancos chineses vocacionado a apoiar a internacionalização e as operações das empresas estrangeiras no estrangeiro.

“Quando um governo africano quer construir um projecto, comunica essa necessidade à embaixada chinesa no seu país que comunica ao ministério chinês do sector. O ministério abre depois concurso na China”.

“A empresa só ganha o concurso depois de ser sujeita a uma fiscalização do ministério da tutela, que sugere que os bancos lhe concedam empréstimos, o que obriga a uma nova investigação do banco sobre a empresa,”disse Huang.

Segundo Emmy Bosten, do Fundo Monetário Internacional em Moçambique, para as construções em Moçambique nas quais o governo chinês abriu concursos limitados a empresas chinesas, “as companhias trouxeram directamente da China todos os recursos necessários, incluindo materiais, equipamentos e recursos humanos.”

Só a Angola, no final de 2004, a China forneceu empréstimos de 2 mil milhões de dólares para a reconstrução de linhas de caminho de ferro e construção de edifícios administrativos destruídos após 27 anos de guerra civil, projectos totalmente executados por empresas chinesas.

A seguir à Arábia Saudita, Angola é o segundo maior fornecedor de petróleo à China, o segundo maior consumidor mundial, e exporta para o gigante asiático 25 por cento da sua produção. O sector petrolífero representa 40 por cento do Produto Interno Bruto do país e cerca de 90 por cento dos rendimentos do governo.

A China consumiu 318 milhões de toneladas de petróleo em 2005, um valor que, em 2006, deverá aumentar entre 5,4 e sete por cento, segundo estimativas oficiais.

Angola é também o segundo maior parceiro comercial da China em África, com as importações chinesas de Angola em 2005 a atingir os 3,581 mil milhões de dólares (um aumento de 72,2 por cento em comparação com 2004) e as exportações a atingir os 196 milhões de dólares (mais 90,2 por cento).

Quanto a Moçambique, números recentemente divulgados pelo Centro de Promoção de Investimentos (CPI) de Maputo, indicam que o investimento directo chinês já ocupa a sexta posição na lista de parceiros do país, tendo passado de 288,7 mil dólares norte-americanos, em 2004, para 5,4 milhões de dólares, em 2005.

No mesmo ano, as trocas comerciais entre os dois países conheceram o seu maior nível, totalizando 148,5 milhões de dólares americanos.

O vice-ministro do Comércio chinês, Wei Jianguo, anunciou, entretanto, hoje em Pequim que o governo vai reduzir a dívida à China dos países de expressão portuguesa em vias de desenvolvimento, mas não adiantou pormenores.

Wei não especificou quais os países que vão beneficiar da redução da dívida ou qual o valor. (macauhub)

MACAUHUB FRENCH