Lisboa, Portugal, 03 Jul – As autoridades de Angola e África do Sul estão a aderir à ideia de que as relações económicas e comerciais com a China contribuem para o desenvolvimento das suas economias e do continente em geral, consideram dois analistas em relatórios a que o macauhub teve acesso.
Para Xavier de Figueiredo, jornalista e analista político, a parceria entre Angola e a China “suplantou todas as outras estabelecidas em Angola” – Portugal e Estados Unidos, em particular – “em termos de ritmo de crescimento, diversificação de áreas e potencial de crescimento”.
“A elite política angolana, sobretudo a que constitui o círculo presidencial, tem amiúde manifestações de exaltação e de gratidão para com a China, por vezes em paralelo com uma animosidade relativamente aos países e instituições ocidentais”, afirma o analista português, no relatório encomendado por um empresário de Lisboa com negócios importantes na África de língua portuguesa.
“Os créditos chineses são menos onerosos e isentos de condições políticas ou outras, estas entendidas como interferência nos assuntos internos”, justifica.
O interesse da China em Angola, fundado nos recursos energéticos, dimensão e potencial, “manifesta-se de forma equivalente no sentido inverso – Angola tem interesse numa estreita relação com a China. É neste binómio que assentam projecções de acordo com as quais se trata de um relacionamento que está para durar”, afirma.
Num outro relatório, também recentemente entregue em Lisboa, o investigador Miguel Padrão afirma que as autoridades sul-africanas estão a ultrapassar alguma desconfiança inicial em relação à “investida” chinesa em África e a ver o potencial de uma maior aproximação.
“Actualmente, nos círculos de poder e negócios da África do Sul, está enraízada a ideia de que existe um enorme potencial de gerar proveitos financeiros do relacionamento com a China”, afirma.
O investigador português vai mais longe e diz mesmo que “aquilo que está comummente convencionado designar como `socialismo de mercado chinês´ está a seduzir os sul-africanos colocados nos círculos de tomada de decisão e a comunidade empresarial afirma que, no caso da China, é bom estar o mais perto e o quanto antes possível”.
Na África do Sul, maior economia do continente africano, “o empresariado acredita que a China não tem grandes possibilidades de manter o actual ritmo de crescimento e que se vai ver forçada a aumentar a participação estrangeira em parte considerável dos projectos a desenvolver em território nacional”, afirma.
“Quando esse momento chegar”, afirma Padrão, a China “privilegiará aqueles que estiverem posicionados na economia chinesa”, logo “as firmas terão de ajustar as suas estratégias para criar modelos que incorporem elementos culturais e sistémicos chineses”.
Para Xavier de Figueiredo, as relações entre a China e Angola vão continuar a evoluir ao ritmo “fulgurante” dos últimos anos, e, frisa, perspectiva-se mesmo que Angola se torne em breve o maior parceiro comercial chinês em África, suplantando a África do Sul.
O analista refere que actualmente a China aproxima-se dos Estados Unidos como principal comprador de petróleo de Angola, está a entrar na pesquisa e exploração de crude e a implantar-se no sector da mineração, tirando partido das influências regionais de Angola para aceder à República Democrática do Congo, Zâmbia e Zimbabué, países de grandes riquezas minerais, em particular de metais raros.
Figueiredo frisa ainda que as empresas chinesas de engenharia e construção estão a alcançar um “predomínio claro” no mercado, o que se deve às linhas de crédito concedidas pela banca chinesa, e a população chinesa está a alcançar uma “grandeza considerável” no país.
“A reputação que os chineses têm é, em geral, benévola. São considerados trabalhadores incansáveis e disciplinados, capazes de realizar obra em pouco tempo e a baixo custo, mas de qualidade. Esta reputação está implantada nas elites e na classe média – que colhe directamente os principais benefícios da obra dos chineses”, afirma.
Nalguns sectores intelectuais e da opinião política, contudo, a China é vista “com reserva”, criticando a “opacidade” do relacionamento com a elite política e questionando o benefício a prazo para a economia angolana do relacionamento.
Penalizadas pela entrada de empresas chinesas podem ser particularmente as construtoras portuguesas, que apresentam “custos muito superiores”, apesar de até agora a vastidão do mercado angolano permitir “uma boa convivência entre os concorrentes”, considera Xavier de Figueiredo.
Em relação aos Estados Unidos, adianta, a aproximação à China permitiu a Angola uma maior “capacidade de negociação” em dossiers-chave.
No referido relatório, o jornalista e analista português recorda também os principais projectos em curso em Angola financiados pela China, avaliados na casa da dezena de milhar de milhões de dólares.
Entre estes estão a refinaria Sonaref, que envolve a Sonangol e petrolíferas chinesas, a reabilitação dos caminhos-de-ferro de Benguela, Luanda e Moçâmedes, das principais estradas do país, o novo aeroporto de Luanda, e ainda o centro de comunicações da Brigada de Apoio Técnico e Operacional, avaliado em perto de 400 milhões de dólares. (macauhub)