Bissau, Guiné-Bissau, 21 Mai – Depois de Lisboa, Luanda, Maputo e Praia, a capital guineense, Bissau, pode ser o próximo passo para o empresário de Macau Stanley Ho e a sua Geocapital, “holding” criada para investir nos países de língua portuguesa.
Na mira do “rei” do jogo de Macau e Lisboa está em concreto a ilha Caravela, no arquipélago dos Bijagós, considerada Reserva Ecológica Biosférica pela UNESCO, onde Ho quer instalar um complexo turístico com casino, segundo noticiou recentemente a “newsletter” África Monitor.
A promoção deste empreendimento, adianta a mesma publicação, foi uma das principais razões da recente visita a Bissau de Almeida Santos, o advogado e ex-presidente da Assembleia da República portuguesa, que tem surgido ao lado de Ho e da Geocapital noutras “frentes”, nomeadamente em Moçambique, onde a “holding” tem importantes projectos no Vale do Zambeze.
Na visita à capital da Guiné-Bissau, Santos foi recebido pelo presidente da República, Nino Vieira, e pelo novo primeiro-ministro, Martinho Cabi.
O político e empresário português tem em Moçambique os seus principais e mais antigos interesses, mas, relata o África Monitor, mantém de há muitos anos uma proximidade a Nino Vieira, mesmo após o derrube do agora presidente (1999), e também a Manuel Santos (“Manecas”), dirigente histórico do PAIGC.
Stanley Ho chegou a apresentar em Cabo Verde um projecto semelhante ao almejado para os Bijagós, de hotel e casino, mas este não foi aprovado pelas autoridades, que invocaram reservas quanto ao local escolhido, um ilhéu fronteiro à capital, Praia.
Santos tem também surgido activamente envolvido nos projectos da Mozacapital em Moçambique, nomeadamente na gorada compra da maioria do capital do Banco de Desenvolvimento e Comércio (BDC) moçambicano.
A “holding”, que já tem interesses no sector financeiro em Angola, chegou a estar perto da compra do BDC há cerca de um ano, relatando então a imprensa moçambicana que Santos, na condição de advogado da Geocapital, teria inclusivamente contactado o presidente moçambicano, Armando Guebuza, no sentido obter uma aprovação célere à operação, então dependente do Banco de Moçambique.
Depois da ruptura das negociações e afastamento da Geocapital, os portugueses do Montepio Geral passaram os sul-africanos do First National para a frente no negócio, concluído no final da semana passada.
Em Angola, a estratégia de Stanley Ho para o sector financeiro parece ser de “começar do zero”, passando pela abertura de um banco dedicado à população, empresários e companhias chinesas a operar no país – o Banco Angolano de Negócios e Comércio (BANC).
O projecto da instituição financeira visava a participação em investimentos no sector privado, através de concessão de crédito ou tomada de participações, um modo de funcionamento semelhante ao da linha de crédito criada pelo governo chinês para Angola.
Observadores do sector consideram a entrada no sector financeiro como uma forma de “muscular” a participação noutros sectores que requeiram investimentos significativos, nomeadamente as infra-estruturas, o imobiliário ou a energia.
Neste último sector é conhecido há muito tempo o interesse da Geocapital e seus associados moçambicanos em participar na privatização da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), mas até ao momento não são conhecidos frutos da aproximação.
Almeida Santos terá tido um papel central na criação da Mozacapital – Sociedade de Investimentos e Gestão SARL, em que a Moçambique Capitais surge associada à Geocapital, tida como um “veículo” criado para a entrada na HCB, maior hidroeléctrica da região, que tem como principais clientes os países-vizinhos, sobretudo a África do Sul.
A Mozacapital é ainda como accionista da Mozacorp, ao lado da Geocapital e da moçambicana Sogir, uma sociedade que visa investir directamente em sectores como mineração, imobiliário, produção de algodão e pecuária.
Prévio a todo este envolvimento foi a assinatura de um acordo de cooperação relativo a infra-estruturas e captação de investimento asiático, entre a Geocapital e o Gabinete do Plano de Desenvolvimento da Região do Zambeze.
O vale do Zambeze é a região de Moçambique mais rica em termos de recursos agro-pecuários e energéticos e nela se encontram as mais importantes minas de carvão do país, concessionadas ao gigante brasileiro Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD) e também a cobiçada HCB. (macauhub)