Cabo Verde, um “porto seguro” entre os países de língua portuguesa

3 May 2016

Cabo Verde, que é encarado por analistas e comunidade internacional como um “porto seguro” entre os países de língua portuguesa devido à estabilidade económica e política, está agora, no início de uma legislatura, apostado em melhorar o ambiente de negócios.

O relançamento do investimento privado – interno e externo – foi definido pelo novo primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, como objectivo primordial da acção do seu governo, de acordo com a folha de informação Africa Monitor Intelligence.

Para favorecer a sua concretização, adianta a mesma publicação, serão aprovadas em breve medidas políticas, fiscais e de outro tipo, visando melhorar o ambiente de negócios no país, tendo sido o abrandamento da economia, em especial os seus efeitos negativos no investimento e na criação de emprego, um dos factores mais penalizadores para o anterior governo nas eleições.

A agência de notação de risco Standard & Poor´s afirma que a reputação de Cabo Verde como sendo um dos países mais estáveis de África mantém-se intocada, mas a situação financeira é considerada delicada, sobretudo por causa do aumento da dívida pública, que duplicou nos últimos 7 anos para 120% do PIB no final de 2015.

A trajectória recente da dívida suplantou largamente os cálculos anteriores da Standard & Poor´s, que apontavam para 105% do PIB, e deverá continuar a aumentar até um “pico” de 125% do PIB em 2017.

Caso o investimento recupere e o crescimento económico acelere, o peso da dívida irá diluir-se mais rapidamente, pelo que é mesmo urgente para o governo melhorar as condições para os investidores, nomeadamente internacionais, tirando partido de ocasiões como a realização da cimeira empresarial entre a China e os países de língua portuguesa em Cabo Verde em 2017.

Em Janeiro, o primeiro-ministro português, António Costa, escolheu Cabo Verde para a sua primeira deslocação oficial, opção com o simbolismo político de demonstrar a prioridade diplomática às relações com os países de língua portuguesa e “natural tendo em conta as excelentes relações bilaterais entre os dois Estados democráticos”, de acordo com o analista Paulo Gorjão.

“Acresce que, entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Cabo Verde surge como um porto seguro, tendo em conta que será o Estado lusófono que tem com Portugal uma relação diplomática mais madura e com menores sobressaltos”, afirma o analista do Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS), em nota publicada na semana passada.

O analista sugere mesmo uma primeira presença de Cabo Verde no Conselho de Segurança da ONU, com os países de língua portuguesa “na primeira linha diplomática a apoiar esta pretensão, caso o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva decida avançar com uma candidatura.”

A tomada de posse do novo governo, em Abril, teve lugar poucos dias depois da inauguração do Palácio Presidencial, na cidade da Praia, uma obra financiada integralmente pela China, tal como a dos edifícios do governo, da Assembleia da República, o Estádio Nacional e outras infra-estruturas emblemáticas como a barragem do Poilão.

Na ocasião, o presidente Jorge Carlos Fonseca falou à revista Macao para sublinhar que as relações de Cabo Verde com a China são “privilegiadas desde a independência”, com tendência para se tornarem “cada vez mais importantes”.

“Estamos numa fase de procurar alargar e diversificar a cooperação económica e financeira. Tudo o que implique a relação entre cooperação económica, empresarial, de negócios, é importante para dinamizar”, disse o chefe de Estado cabo-verdiano, questionado sobre as expectativas para a reunião empresarial entre China e países lusófonos em 2017.

Jorge Fonseca esteve em Dezembro de 2015 no último Fórum para a Cooperação entre a China e África, em Joanesburgo, onde se reuniu com o presidente chinês, Xi Jinping.

Em preparação, disse à revista Macao, está uma visita oficial a Pequim. (Macauhub/CN/CV)

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