Nova Rota da Seda projecta Macau como “plataforma de informação e conhecimento”

21 November 2017

A estratégia chinesa da Nova Rota da Seda projecta Macau como uma “plataforma de informação e conhecimento” para os países de língua portuguesa, afirma a investigadora portuguesa Fernanda Ilhéu.

Em artigo para a revista Oriente-Ocidente, a investigadora do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) afirma que Macau, mais do que uma “mistura civilizacional harmoniosa” de duas civilizações, é “um activo que se projecta no futuro, na construção de uma iniciativa integradora global para o qual a China considera o contributo de Portugal e de outros países de língua portuguesa importantes.”

Macau, adianta, “terá de preparar-se, reforçando-se como uma plataforma de informação, conhecimento e relacionamentos, da China e de outros países da região asiática com Portugal na União Europeia, com o Brasil na América Latina e com os países africanos de língua oficial portuguesa.”

No caso da cadeia de valor global da China com os países de língua portuguesa, Fernanda Ilhéu afirma que a responsabilidade de coordenação cabe ao Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e ao Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que financia os projectos.

“A China deverá tentar ligar esta iniciativa com as estratégias de desenvolvimento dos países envolvidos e, no caso dos países de língua portuguesa, é importante que estas instituições que em Macau têm a responsabilidade de coordenação tenham um bom conhecimento das realidades e dos projectos desses países”, adianta a investigadora.

Em 2016, Macau elaborou pela primeira vez um Plano de Desenvolvimento Quinquenal que tem como prioridades a participação de Macau na estratégia “Uma Faixa, Uma Rota” e a construção da “Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.”

O Presidente da China, Xi Jinping, anunciou recentemente em Pequim 540 mil milhões de yuans (78 200 milhões de dólares) para projectos que integrem a iniciativa Novas Rotas da Seda, um projecto de infra-estruturas com o qual a China pretende fortalecer o seu relacionamento comercial na Ásia, África e Europa.

O Presidente disse ainda que a China vai contribuir com 100 000 milhões de yuan (14 500 milhões de dólares) adicionais para o Fundo da Rota da Seda, criado em 2014 para financiar projectos de infra-estruturas e providenciar ajuda, nos próximos três anos, no valor de 60 000 milhões de yuan (8700 milhões de dólares) a países em desenvolvimento e a organizações internacionais que participem na iniciativa.

Dois bancos – de Desenvolvimento da China e de Exportações e Importações da China – vão também oferecer empréstimos especiais até 380 000 milhões de yuan (55 000 milhões de dólares) para apoiar a iniciativa “Faixa e Rota.”

Na mesma edição da revista Oriente-Ocidente, o investigador Paulo Duarte defende que o terminal da longa linha ferroviária entre a China e a Europa não é Madrid, mas sim a capital portuguesa.

“É Lisboa que deve reter a atenção dos decisores políticos chineses, na medida em que Lisboa possui portos marítimos, fluviais, aeroportuários, rodoviários e ferroviários. É em Lisboa (e não em Madrid) que a Europa continental abraça o Atlântico, ora rumo a África, ora rumo às Américas. Lisboa pode perfeitamente servir de centro logístico/rede multimodal no âmbito do esforço chinês de ligar os povos e as culturas num projecto de prosperidade colectiva e de vantagens mútuas”, afirma.

Portugal é membro fundador do Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (AIIB) e representantes diplomáticos chineses em Lisboa afirmam que a posição de Portugal no centro da Rota Marítima do Atlântico poderá ter um papel imprescindível na realização de “Uma Faixa e Uma Rota” na Europa. (Macauhub)

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