Cinco dos seis países africanos de língua oficial portuguesa fazem parte da lista de 44 estados que subscreveram o projecto de criação da zona de comércio livre do continente africano (AfCFTA), que mereceu um acolhimento geralmente positivo por parte da sociedade civil.
O primeiro passo para a criação da AfCFTA foi dado no final de Março em Kigali, Ruanda, na cimeira de chefes de Estado da União Africana, com a assinatura de um acordo que prevê a criação de uma união aduaneira semelhante à da União Europeia.
À cabeça dos signatários está Angola, que esteve representada na cimeira pelo seu presidente, João Lourenço, bem como Moçambique, também representado pelo chefe de Estado, Filipe Nyusi.
Para o economista angolano José Carlos Costa, Angola, sob a liderança de João Lourenço, “abraçou este projecto com entusiasmo”, em “contraste com a postura, até agora, contrária a uma maior integração económica na sua região.”
“Gostaria que Angola abraçasse a integração regional amanhã e que encarasse uma integração continental no médio prazo sem grandes reservas e, por isso, espero que o entusiasmo demonstrado com a assinatura do acordo em Kigali tenha como primeira consequência uma alteração de posição quanto à integração económica regional”, escreveu Costa no seu site “Angonomics.”
Do projecto da AfCFTA “certamente virão mais coisas positivas do que negativas, como a importação mais barata de produtos de outros países da região e alargamento dos mercados para as nossas empresas que já exportam e o aparecimento de oportunidades para as que ainda não exportam”, adiantou.
Após a assinatura do acordo de Kigali, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, José Pacheco, sublinhou a importância de África “se unir para fazer o negócio inter-africano.”
A ministra dos Negócios Estrangeiros do Ruanda, Louise Mushikiwabo, afirmou que o acordo “tem importantes implicações económicas para a população africana”, uma vez que abrirá o mercado a 1,2 mil milhões de pessoas com a possibilidade de gerar grande riqueza para o continente, acelerando o investimento, diversificando a economia e aumentando o comércio.
Entre os signatários do acordo estão também a Guiné Equatorial, através do seu primeiro-ministro, Francisco Obama Asue, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, representados ao nível de ministros.
A Guiné-Bissau foi, assim, o único país de língua oficial portuguesa a não subscrever o acordo de Kigali.
O centro de reflexão marroquino OCP Policy Center, em análise recente à assinatura do acordo, sublinhou que a “tradução da visão em acção” não será fácil, nomeadamente pela necessidade de incluir grandes economias como a África do Sul e Nigéria, que estão ainda a estudar a sua adesão, mas também limitar a exclusão de produtos e definir regras de origem dos mesmos.
“Todas as nações africanas também se debatem com o imperativo de melhorar as infra-estruturas de transportes para permitir as trocas comerciais. As economias maiores e mais ricas, nomeadamente a China, União Europeia e Estados Unidos, têm um interesse no êxito da zona de comércio livre e há muito que podem fazer para promover um resultado favorável”, refere o OCP Policy Center. (Macauhub)