A crise económica global causada pelo Covid-19 deverá penalizar o crescimento económico em África, com países altamente endividados, caso de Angola e Moçambique, limitados na capacidade de responder com estímulos, segundo a Comissão Económica da ONU para África (UNECA).
A comissão da ONU afirma no relatório que o crescimento dos países africanos deve desacelerar de 3,2% para 1,8%, no melhor cenário, deixando cerca de 27 milhões de pessoas na pobreza extrema.
“Enquanto os países desenvolvidos aplicaram milhares de milhões de dólares no sector da Saúde, na rede de segurança social e medidas de estímulo económico, a África carece fortemente de espaço orçamental para reagir da mesma forma”, refere o documento da UNECA.
A situação financeira africana, adianta a comissão da ONU, é penalizada por “quatro desafios críticos”, nomeadamente níveis elevados de dívida em relação ao Produto Interno Bruto, défices fiscais elevados, altos custos de crédito e depreciação de muitas moedas africanas face ao euro e ao dólar.
Mais de 50% dos países africanos registaram défices orçamentais acima de 3,0% em 2019 e cerca de 22 países africanos apresentaram índices de dívida em percentagem do PIB acima da média africana de 61%, segundo a UNECA.
Entre estes países estão Moçambique, que registou uma dívida de 108,8% do PIB e um défice orçamental de 6,1% no ano passado, e Angola, cuja dívida atingiu 95% do PIB – ainda que a par de um excedente orçamental de 0,7%.
Vera Songwe, subsecretária-geral da ONU e secretária executiva da UNECA, prevê que serão necessários 100 mil milhões de dólares de forma urgente para criar margem de manobra orçamental a todos os países, de forma a que possam “atender às necessidades imediatas da rede de segurança das populações.”
“Os custos económicos da pandemia foram mais severos do que o impacto directo do Covid-19. Em todo o continente, todas as economias estão a sofrer com o choque, sendo que o distanciamento físico necessário para gerir a pandemia está a sufocar e a afogar a actividade económica”, afirmou Songwe no lançamento do relatório.
Segundo o documento, as pequenas e médias empresas africanas estão particularmente ameaçadas, se não houver apoio imediato.
O preço do petróleo, que representa 40% das exportações da África, caiu pela metade em valor, e as principais exportações africanas caíram, incluindo o turismo e aviação.
Também na semana passada, no seu relatório Perspectivas Económicas Globais, o Fundo Monetário Internacional previu uma recessão na África a sul do Saara de 1,6% em 2020, 5,2 pontos percentuais abaixo das previsões de Outubro.
Todos os países africanos de língua oficial portuguesa, à excepção de Moçambique, deverão registar uma contracção económica, com Angola, dependente das exportações de petróleo, a cair 1,4% e Cabo Verde 4,0%, nove pontos percentuais abaixo da anterior previsão.
São Tomé e Príncipe deve registar uma recessão de 6,0% do PIB, a mais acentuada entre os países língua oficial portuguesa e a economia da Guiné-Bissau deve cair à volta de 1,5%.
Moçambique deverá crescer 2,2% este ano, o mesmo que no ano passado, segundo o FMI, mas a previsão não é partilhada pela Economist Intelligence Unit (EIU), que estima que a economia de Moçambique sofrerá uma quebra de 2,4% este ano. (Macauhub)